
Há uma lenda que diz que o beija-flor era originalmente uma borboleta, que pouco a pouco foi vestindo-se de penas, a princípio negras, depois cinzentas e logo rosadas e finalmente douradas tão resplandecentes que no sol parecem um conjunto de todas as tintas. Desta lenda decorre também que a idéia da teoria de descendência não é nova.
O Beija-flor, ou Colibri representou um papel importante no antigo México. Aqui é hora de salientar a dimensão sobrenatural deste pequeno pássaro. Para os astecas, o colibri era, um pássaro psicopompo, já que nesta forma, ou na de borboleta, é que as almas dos guerreiros mortos desciam novamente para a terra. O beija-flor também era considerado o autor do calor do sol.
Huitzilopochtli, o Mago Colibri, o terrível deus da guerra da belicosa nação asteca, traz no seu nome "opochtli" . Era considerado também um deus do fogo, da luz ou do sol, por isso é que o xincoatl, a serpente inflamada do céu, figurava como o "nagual" do deus da guerra e do deus do fogo. O mais curioso é sua relação com o "huitzitzilin", o Beija-flor. Esta relação se esprime antes de tudo pelo nome do deus que significa "opochli" do Beija-flor ou o sinistro do Beija-flor. Opochli, não quer dizer outra coisa que em frente de quem não há meio de se salvar.
Nas pinturas hieroglíficas aparece o deus entre a boca aberta do "uitzitzilin", o Beija-flor.
Mas que tem a ver o terrível deus da guerra dos astecas com a esbelta ave de cores brilhantes que beija as flores? Os arqueólogos cogitam que as cores de brilho metálico dão ao Beija-flor o aspecto de brasa, e de fato, diversas espécies têm o nome de "tle-uitzlin", isto é, Beija-flor de cor de fogo. Não estaria em relação com o elemento do fogo e assim com o deus do fogo?
Também o culto especial, que renderam aos deuses do fogo em certas épocas distintas, se derivou da convicção que a morte da natureza, ao tempo da seca, se deve ao elemento fogo, sendo porém o reino dos deuses do fogo transitório, pois a morte da natureza era seguida de seu renascimento. Ora o próprio Beija-flor na supersticiosa convicção dos mexicanos, era o verdadeiro símbolo da morte e da ressurreição.
"O Beija-flor", diz Sahagum, "renova-se a cada ano. No tempo do inverno pendura-se nas árvores pelo bico e lá pendurado seca e lhe caem a plumagem. Quando as árvores tornam a reverdescer, começam a reviver e renascer suas penas e ao ouvir o trovão antes da chuva então, acorda, voa e ressuscita".
Valde Cebro no seu "Governo das aves", afirma que na entrada do inverno o Beija-flor busca um lugar abrigado e metendo os pés e o bico num orifício da árvore, passa toda a estação dormindo.
No México os Montezumas encarregavam a certos superintendentes que na época do sono dos Beija-flores os deplumassem para tecerem com seus fios de ouro. Até a primavera cresceriam outras plumas e com elas saem para compensar sua hibernada de seis meses.
"O Beja-flor", fala Pe. Duran, "seis meses do ano está morto e nos outros seis está vivo. Quando sente que está chegando o inverno, procura uma árvore frondosa que nunca perde as folhas e com instinto natural acha uma fenda e põe-se em raminho junto aquela fenda e intromete nela o bico quanto pode e está lá seis meses do ano, quanto dura o inverno, sustentando-se só da virtude daquela árvore, como morto. Vindo a primavera, recobrando a árvore nova força e criando folhas novas, o passarinho, ajudado pela virtude da árvore, torna a ressuscitar e sai dali a criar e é por isso que os índios dizem que morre e ressuscita."
Vê-se que esta crença era geral, pois aparece representada entre os Astecas, que acreditavam que seus guerreiros mortos, passados um período de 4 anos (onde acompanhavam o Sol), se transformavam em diversas espécies de aves de rica plumagem e cores brilhantes, que iam aspirar o suco das flores no céu com os "tzintones", isto é, os Beija-flores da terra.
Outro motivo para relacionar o Beija-flor com o deus da guerra, parece achar-se na índole desta ave. Pois, é de se admirar a energia armazenada neste pequeno ser. Todo o dia em constante movimento, sempre inquieto nunca lhe permite repouso prolongado. Com essa acumulação de forças e seu temperamento energético, coube-lhe também um gênio brigão. O encontro de dois machos é motivo de luta, que em certas ocasiões é travada com tanto encarniçamento que no meio da briga rolam pelo chão, ou disparam ao ar como duas faíscas que se levantam rápidas da forja.
A coragem e ousadia de seu ataque e o desprezo da morte com que se atira até sobre aves rapinas, explicam o pensar dos Mexicanos (astecas), que visualizam relações de parentescos entre essa verdadeira flecha de batalha e o deus de guerra: Huitzilopochtli.
É o Beija-flor uma das aves mais graciosas e lindas da avifauna. Tudo na vida destas aves é curioso, sua biologia, seus hábitos, sua desmedida bravura, a singularidade de seu vôo, a arte de construção de seu ninho, entre tantas outras coisas. Todas estas qualidades e virtudes, chamaram a atenção dos indígenas, que para explicá-las criaram muitas e muitas lendas incas, astecas, tupis e guaranis....para o nosso total regozijo.